Exposição Nego Fugido: Memórias Quilombolas (novembro - 2025)

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Nego Fugido, memórias quilombolas
Exposição de Nicola Lo Calzo
Em colaboração com a Associação Cultural Nego Fugido
Abertura em 6 de novembro às 18h / MAFRO-UFBA - Salvador de Bahia
De 6 de novembro de 2025 a 6 de fevereiro de 2026
Curadora da exposição : Ioana Mello
Diretor artístico : Guillaume Breton
 
Ritos de Liberdade
A exposição Nego Fugido, de Nicola Lo Calzo, propõe um mergulho sensível em uma celebração da liberdade, onde a imagem se torna meio de resistência e reapropriação. Realizada na comunidade quilombola de Acupe, na Bahia, a encenação anual do Nego Fugido mistura ritual e performance para reconstituir, do ponto de vista dos descendentes de escravizados, a luta pela emancipação negra.
 
Essa reencenação, que evoca os chamados “quadros vivos”, não repete o passado, mas o reinventa. Ao recuperar e atualizar essas histórias silenciadas, a comunidade constrói uma contra-história — uma memória insurgente que desafia a narrativa dominante e colonial. O Nego Fugido, nesse sentido, é um gesto político, espiritual e artístico, que nos interpela: de onde vêm as imagens que moldam nossa memória histórica? Quem as transmite, e em nome de quê?
 
Nicola Lo Calzo fotografa com o tempo do cuidado e da escuta. Desde 2010, com seu projeto KAM, o artista investiga as heranças da escravidão atlântica por meio das formas de resistência que atravessam corpos, territórios e rituais. Em Acupe, sua abordagem se ancora no respeito e na cocriação, mais do que observar, ele participa. Sua obra não busca documentar o outro, mas compor com ele.
 
Na exposição, diferentes elementos constroem uma cartografia visual da memória: fotografias, vídeos, arquivos e sons tecem juntos a força simbólica do Nego Fugido. Um fio condutor percorre esse espaço — o fio vermelho de Exu, orixá mensageiro e figura-chave dos cultos afro-brasileiros, guardião das encruzilhadas e das passagens. Exu é aquele que media, que perturba, que anuncia, à semelhança do caçador, figura central do Nego Fugido.
 
O Nego Fugido não é apenas um rito de resistência, é também uma crítica à narrativa conciliadora da “democracia racial” e às representações estéreis do multiculturalismo. Apresentada no contexto da Temporada França-Brasil 2025, Nego Fugido pretende ampliar os diálogos entre as memórias atlânticas, e reconhecer, por meio da arte, as vozes múltiplas que constroem uma história comum, ainda viva.
 
Ioana Mello, curadora da exposição
 
 
 
Esta exposição, em colaboração com a Associação Cultural Nego Fugido, é fruto da pesquisa realizada entre 2022 e 2025 como parte do doutorado em arte de Nicola Lo Calzo na Escola de Pesquisa Universitária em Humanidades, Criação e Patrimônio da CY Cergy Paris Université em parceria com a ENSAPC (sob a supervisão de Sylvie Brodziak e Corinne Diserens). Esta tese é a continuação de um projeto fotográfico de longo prazo sobre as memórias e os sobreviventes da escravidão colonial e sua resistência na África, no Caribe, nas Américas e na Europa, que começou em 2011: o projeto KAM. Usando uma abordagem queer e interseccional, esse projeto tem como objetivo levantar a questão central das representações pós-coloniais dentro da prática artística, especialmente quando o artista opera e intervém em contextos ainda marcados por desigualdades sociais e pelos efeitos posteriores da história colonial.
 
Nicola Lo Calzo é um fotógrafo e professor-pesquisador que vive na França desde 2006. Atualmente, trabalha em Paris, onde ministra um curso sobre práticas anticoloniais e queer em fotografia na École nationale supérieure d’arts de Paris-Cergy e na Sciences Po Saint-Germain- en-Laye. Seu trabalho foi exibido em museus, centros de arte e festivais, incluindo o Museé Nivola em Orani (Brigantinas, 2024), o Festival Fotografia Europea em Reggio Emilia e o Centro Italiano di Fotografia em Turim (Binidittu, 2021), o Institut des Cultures Islam em Paris (Tchamba, 2020), o Centro de la Imagen na Cidade do México (Obia, 2018), o Hospice Comtesse em Lille (Regla, 2018), o Musée d’Art Contemporain Africain Al Maaden em Marrakech (Agouda, 2017). Em 2017, seu trabalho foi exibido como parte da exposição Afriques Capitales organizada por Simon Njami entre Paris e Lille. O trabalho de Lo Calzo pode ser encontrado em várias coleções privadas e públicas, incluindo as coleções nacionais do CNAP, da BNF, a coleção Lightwork em Syracuse - Nova York, os Arquivos Alinari em Florença, a Pinacoteca Civica em Monza e o Tropenmuseum em Amsterdã. Lo Calzo recebeu o prêmio Cnap em 2018, foi indicado para o Prix Elysée em 2019 e foi finalista do Prix Nièpce em 2020. Em 2022, ele ganhou o prêmio Grande Commande Photographique da BNF.
Seu trabalho foi publicado pela Editions Kehrer (Regla em 2017, Obia em 2015 e Inside Niger em 2012 e L’Artiere (Binidittu em 2020). Ele também colabora regularmente com a imprensa internacional, incluindo Le Monde (jornal e revista diários), The Guardian, Internazionale. Seu trabalho é representado pela Galerie Dominique Fiat (França) e pela Galerie Podbielski Contemporary (Itália).
 
Esta exposição itinerante é organizada no âmbito da Temporada Brasil - França 2025. Ela já foi apresentada no Centro de Arte Ygrec, em Aubervilliers, na Aliança Francesa de Brasília, no Museu Nacional da República, em Brasília, e no Festival FotoRio, no Rio de Janeiro. Ela conta também com o apoio da Fundação para a Memória da Escravidão, da Aliança Francesa de Brasília e do Festival Convergences.
Imagem Ilustrativa: 
Ano: 
2025